O encontro foi por meio das plantas, um diálogo entre duas pessoas das culturas afro e indígena e os seus saberes. Aconteceu no final da década de 1950 durante a pandemia conhecida como "gripe asiática".
Quem contou esta história foi Mãe Stella de Oxóssi, mãe-de-santo importante para a Bahia e também para toda cultura afro brasileira. Esta história é o relato de um fato vivido por ela, há algumas décadas atrás.
Aquele era um momento difícil para a humanidade, como tem sido agora com o COVID-19, pois a pandemia de gripe asiática assolava todos os cantos do planeta, inclusive na Bahia.
Com os sistemas de saúde sobrecarregados, a solução era (e continua sendo) manter as pessoas em casa. As enfermeiras sanitaristas, visitadoras, como era o caso de Mãe Stella naquela época, tinham (e ainda têm) um papel muito importante no amparo dos doentes e de suas famílias.
Em certa visita durante seu trabalho, Mãe Stella presenciou uma cena muito interessante.
Na casa de uma família indígena havia um curumim (criança) infectado, sendo tratado por um pajé em um ritual de cura. O mestre indígena utilizava, de diferentes formas, as plantas como medicina para aliviar a dor e tirar a doença do corpo do curumim. Stella nada sabia sobre a cultura indígena. Porém, mesmo naquele tempo com sua pouca idade, já sabia bastante sobre o poder das plantas. Tanto para conexão com o sagrado, quanto para a cura do corpo.
Ela observou atentamente aquela cena curiosa, com o olhar de encantamento pelo novo, por aquilo que é diferente. Desde muito cedo ela aprendeu sobre o respeito ao outro, com o que não se sabe. Aprendeu também sobre o mistério, aquilo que não se diz.
Após o ritual Stella se aproximou do Pajé e eles desenvolveram uma conversa amigável sobre as plantas sagradas e como as utilizavam em suas respectivas culturas.
Este foi um encontro real contado por Mãe Stella. Mas se tornou livro e agora é também simbólico. O encontro entre representantes das culturas originárias do Brasil por meio do conhecimento das plantas.
O livro não se aprofunda sobre as plantas, nem entra em aspectos da cultura ou da religião. Sim, estes assuntos são mencionados durante a conversa entre os dois sábios. O que você vai encontrar neste livro é uma história amorosa sobre troca de saberes, do encontro acolhedor entre dois seres humanos de diferentes culturas do Brasil, e o respeito à vida.
Uma história que você pode ler para seu filho, ou para a sua avó. Mas principalmente para você. Pois é um livro para todas as idades.
Este livro A Ialorixá e o Pajé publicado pela Solisluna Editora, foi escrito por Mãe Stella e ilustrado com maestria por Enéas Guerra, também filho de Oxóssi.
Dois filhos do rei da mata, caçador de uma flecha só, assinam esta obra sobre o amor às culturas do nosso Brasil.
Kin Guerra
Graduado em cinema e audiovisual pelo Instituto de Artes, Humanidades e Ciências da Universidade Federal da Bahia. É fotógrafo e editor na Solisluna